Lenda das rosas

João Linhares Barbosa / M.ª Teresa De Noronha
(Fado das Horas)

Na mesma campa nasceram
Duas roseiras a par
Conforme o vento as movia
Iam-se as rosas beijar

Deu uma, rosas vermelhas
Desse vermelho que os sábios
Dizem ser a cor dos lábios
Onde o amor põe centelhas

Da outra, gentis parelhas
De rosas brancas vieram
Só nisso diferentes eram
Nada mais as diferençou
A mesma seiva as criou
Na mesma campa nasceram

Dizem contos magoados
Que aquele triste coval
Fora leito nupcial
De dois jovens namorados

Que no amor contrariados
Ali se foram finar
E continuaram a amar
Lá no além todavia
E por isso ali havia
Duas roseiras a par

A lenda simples, singela
Conta mais... que as rosas brancas
Eram as mãos puras, francas
Da desditosa donzela

E ao querer beijar as mãos dela
Como na vida o fazia
A boca dele se abria
Em rosas de rubra cor
E segredavam o amor
Conforme o vento as movia

Quando as crianças passavam
Junto aquela sepultura
Toda a gente afirma e jura
Que as rosas brancas coravam

E as vermelhas se fechavam
Para ninguém lhes tocar
Mas que alta noite ao luar
Entre um séquito de goivos
Tal qual os lábios dos noivos
Iam-se as rosas beijar