Digam

Manuel de Andrade

Se hoje alguém, me procurar
Digam que não pode entrar,
Que não estou para ninguém.
Fechem-lhe a minha janela
E mesmo que seja ela,
Digam, que não estou também.

Digam que a não quero ver,
Que não me faça sofrer,
Digam-lhe, que se vá embora,
Digam que há muito morri,
Mesmo que nunca existi,
Digam que aqui ninguém mora!

Façam o que lhes lembrar,
Digam que não pode entrar,
Que não estou para ninguém...
Que a porta ficou trancada...
Ou então, não digam nada
Porque eu sei, que ela não vem!