Fado português

José Régio / Alain Oulman

O Fado nasceu um dia,
Quando o vento mal bulia
E o céu o mar prolongava,
Na amurada dum veleiro,
No peito dum marinheiro
Que estando triste, cantava,
Que, estando triste, cantava

Ai, que lindeza tamanha,
Meu chão, meu monte, meu vale,
De folhas, flores, frutas de oiro,
Vê se vês terras de Espanha,
Areias de Portugal,
Olhar ceguinho de choro

Na boca dum marinheiro
Do frágil barco veleiro,
Morrendo a canção magoada,
Diz o pungir dos desejos
Do lábio a queimar de beijos
Que beija o ar, e mais nada,
Que beija o ar, e mais nada

Mãe, adeus
Adeus, Maria
Guarda bem no teu sentido
Que aqui te faço uma jura
Que ou te levo à sacristia,
Ou foi Deus que foi servido
Dar-me no mar sepultura

Ora eis que embora outro dia,
Quando o vento nem bulia
E o céu o mar prolongava,
À proa de outro veleiro
Velava outro marinheiro
Que, estando triste, cantava
Que, estando triste, cantava